devaneios sobre liberdade e o desejo de se tornar imaterial
Ensaio o nome em meus lábios - sem som - até que eu possa pronunciá-lo de novo, de novo, de novo; até que dissolva toda minha língua em culpa, que não caiba mais nenhuma letra desse nome no fundo da goela, no céu da minha boca. Até que não se veja mais nada além de nada ao fechar todos os meus olhos. Até que não sobre mais nenhum pedaço de falta pelo caminho.
O pensamento que me guia até outro lugar no espaço da memória - me traz agora de volta a vida que acaba de ir nesse mesmo instante - viaja na fragilidade do tempo. Digo com antecedência: de imediato, escolho ficar. Eu permaneço. Entretanto, meu punho esquerdo, de dedos cerrados, ainda guarda com toda força alguma possibilidade de não se estar mais. Ter o direito ao espaço vazio, onde acontece a vida, na ausência, é essencial para um espírito livre.
Não é assustador pensar que só podemos ter certeza em relação às coisas que estão vivas dentro de nós?
Sou refém desse corpo material, tangível e limitado a uma voz da consciência; não me pertence, tampouco o mundo, que não é meu, eu pertenço a ele.
No abraço da vida somos todos uma fração do divino, a natureza. Voltarei como árvore, grão de areia, como fragmento de hesitação ante alguma situação humana, serei parte de um desejo qualquer que antecede uma ação descabida de prudência. Mas se me for permitido, imploro com força descomunal, que eu volte de novo, de novo, de novo como raio de luz que reflete estrelinhas sobre lençol d’água, ser uma fina e frágil película, visível e imaterial. Assim, durante alguns segundos, talvez eu seja livre para sempre.
foto e texto por sabrina ayumi
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